por
Marina Motomura | Edição 61
Além de
sentir mais calor, em um futuro não tão distante o povo brasileiro deve
enfrentar secas em algumas partes, chuvas torrenciais em outras, furacões, e
todas as espécies, inclusive o ser humano, devem sofrer baixas consideráveis.
No início de fevereiro, um grupo de cientistas do IPCC (sigla em inglês para
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU) divulgou um
relatório que mostra que o planeta está cada vez mais quente - e a chapa vai
continuar esquentando. O aquecimento da Terra, contudo, não será homogêneo: a
temperatura subirá mais nos continentes do que nas áreas oceânicas e mais no
hemisfério norte do que aqui no sul. Isso significa que o Brasil até pode ser
menos afetado do que os Estados Unidos e os países europeus, mas, se as
previsões do IPCC se concretizarem, não teremos refresco. "O aquecimento
por aqui deve ser de 4 a 5,5 ºC na região tropical. O Nordeste, o Centro-Oeste
e a Amazônia serão as regiões mais afetadas", diz o meteorologista José
Marengo, coordenador de estudos de mudanças climáticas do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe). O IPCC deve divulgar novos relatórios mais detalhados
em breve, com previsões sobre o impacto do aumento da temperatura em cada
região do globo, mas estudos do Inpe já dão uma idéia de como ficará nosso país
em menos de cem anos. É melhor ir ligando o ar-condicionado.
Operação
abafa Dentro
de cem anos, as Regiões Norte e Centro-Oeste serão as maiores vítimas do calor
FLORESTA
AMEAÇADA
No
Brasil, a onda de calor será mais intensa nas Regiões Centro-Oeste e Norte. E,
junto com o calor, aumentam os riscos de incêndios e queimadas. A maior vítima
disso, claro, é a floresta Amazônica, onde a mata fechada deve dar lugar a uma
vegetação menos densa, como o cerrado
ENTRESSAFRA
O
aquecimento global vai bagunçar as temperaturas, acabando com as diferenças
entre as quatro estações, e tornando os veranicos - períodos secos em estações
tipicamente chuvosas - mais freqüentes. Com isso, safras inteiras podem ser
perdidas por causa do calor e de chuva em excesso na hora errada
FURACÃO
2100
É
"muito possível", segundo o IPCC, que tormentas, tufões e furacões
sejam mais constantes e intensos - o aquecimento aumenta os choques entre
massas de ar de diferentes temperaturas, provocando fenômenos desse tipo. O
furacão Catarina, que passou por Santa Catarina em março de 2004, parece ter
sido apenas o primeiro resultado desse processo
PLANTÃO
MÉDICO
O ar,
quente e seco, ficará mais difícil de respirar. Ao menos 300 mil pessoas
morrerão a cada ano devido a doenças respiratórias. Brasília, já famosa pelo
clima seco, ficará inabitável em algumas épocas. E não é só isso: como verão e
inverno terão temperaturas parecidas, insetos transmissores de doenças como
malária e dengue terão mais tempo para se reproduzir
NÃO VAI
DAR PRAIA
O IPCC
prevê que o nível dos oceanos suba de 18 a 59 centímetros até 2100. Cidades
litorâneas do mundo todo terão que construir barreiras para conter a água e
ilhas correm o risco de desaparecer. A ilha de Marajó, no Pará, não deve sumir
nesse primeiro período, mas seu território sofrerá uma perda considerável: o
Inpe prevê que 2 metros de elevação do nível do mar roubaria 28% do território
da ilha
VIDAS
SECAS
Com
temperaturas mais altas, as regiões secas devem ficar ainda mais secas. O
semi-árido nordestino pode deixar o semi para trás e ganhar o aspecto de um
deserto. Resultado: menos plantas, menos animais e mais gente fugindo para as
cidades maiores, que verão a pobreza crescer na sua periferia
TEREMOS
TORÓ
Foi-se o
tempo que São Paulo era a terra da garoa. Daqui para a frente, a metrópole
tende a sofrer com chuvas fortes - e, claro, enchentes constantes. Nas cidades
do Sul e do Sudeste, deve chover 20% mais do que chove hoje e, pior, as chuvas
devem ser mais duradouras, já que mais água deve se acumular nas nuvens
MORTE À
MATA
Os
humanos podem fugir para lugares mais frios se a temperatura aumentar demais,
mas animais e principalmente plantas não têm a mesma sorte. Por isso, estima-se
que a mata Atlântica, que ainda abriga uma cadeia alimentar bastante complexa,
pode perder até 40% da sua biodiversidade atual