O que é a mudança climática?
Os chamados gases do efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono (CO2), acumulam-se na atmosfera e impedem que as radiações infravermelhas que o planeta emite para se esquentar saíam para o espaço. Isso faz com que a temperatura do planeta suba. Esses gases sempre estiveram presentes na atmosfera. O problema, segundo o consenso (quase absoluto) dos cientistas, é que as atividades humanas contribuíram para romper o equilíbrio que existia. A indústria, o transporte e os usos do solo aumentaram a concentração desses gases. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a concentração de CO2 na atmosfera chegou, em 2014, a 397,7 partes por milhão (ppm). Antes da Revolução Industrial, era de 279 ppm.
Quais as consequências da mudança climática?
Os
cientistas do grupo IPCC da ONU mostraram que, se o ser humano continuar com o
ritmo de emissão de gases sem tomar medidas para reduzir as consequências, a
temperatura média global subirá de 3,7 a 4,8 graus em 2100, em relação ao nível
pré-industrial. Além do aumento da temperatura e do nível do mar, os cientistas
sustentam que também afetará os fenômenos climáticos extremos, como inundações,
secas e ciclones. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA
analisou 28 fenômenos extremos registrados no planeta em 2014. E concluiu que
em 14 casos a mudança
climática fez com que eles fossem mais prováveis ou mais fortes.
Pode ser revertida?
Os
cientistas do IPCC alertam que já existe uma mudança climática comprometida
pelos gases do efeito estufa que o homem emitiu, principalmente, desde a década
de setenta do século passado. Por isso, não dá para impedir que a temperatura
média global aumente. A opção que existe é limitar esse aumento para dois graus
em 2100, em relação aos níveis pré-industriais, para evitar grandes desastres
naturais.
O que é a COP21 de Paris?
A
vigésima primeira Conferência das Partes (COP21) é a cúpula
em que se sentam os 195 países signatários da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC). Nesse tratado internacional, de 1992,
foi reconhecida a importância do aquecimento global. Mas esse texto tem que se
desenvolver com medidas concretas.
O que é o Protocolo de Kyoto?
O Protocolo de Kyoto, de
1997, fixa as metas concretas de redução de gases que os países desenvolvidos
têm que atingir. No entanto, ele foi legalmente vinculado a apenas 37 Estados,
dos quais 28 pertencem à União Europeia, e que representam 12% das emissões
globais. As principais potências emissoras de gases ficaram fora: China, por não estar no grupo
de países desenvolvidos, e os EUA, que não ratificou o protocolo. Kyoto entrou
em vigor em 2005, e em dez anos de aplicação, conseguiu uma redução de 22% das
emissões nos 37 países signatários, muito acima dos 5% fixados como meta. Mas,
por não afetar as principais potências, as emissões globais continuaram
crescendo. Entre 2000 e 2010, por exemplo, subiram 24%.
O que será discutido em Paris?
Um
protocolo para substituir o de Kyoto e que começaria a ser aplicado a
partir de 2020. Neste caso, a intenção é que os 195 signatários realizem
políticas de mitigação, ou seja, reduzam as emissões de gases. Além disso,
espera-se que seja fixado como objetivo que, ao final do século, a temperatura
global não supere os dois graus, embora Estados mais expostos (como os
insulares) queiram baixar essa meta para 1,5 graus.
Qual a fórmula escolhida?
O tratado
não vai impor metas individuais de redução de CO2. Para tentar não
repetir Kyoto, com um alcance muito limitado, optou-se por outra fórmula: cada
país, voluntariamente, apresentará compromissos de redução de emissões, tanto
os desenvolvidos quanto os que não são. A alguns dias do começo da cúpula, mais
de 170 já fizeram isso. Entre eles, estão todas as principais potências
econômicas do mundo.
Esses esforços são suficientes?
Não.
Segundo as estimativas realizadas pela ONU, extrapolando os compromissos
voluntários (nos quais os Estados fixam metas para 2025 e 2030), a temperatura
ao final do século subirá pelo menos 2,7 graus, embora outras organizações e
instituições falem de até quatro graus. De fato, a previsão é de que até 2030
as emissões continuem crescendo, ainda que em um ritmo menor que nas últimas
décadas. Algumas potências, como a União Europeia e a China, propõem como
solução que esses compromissos individuais sejam revisados a cada cinco anos,
para se aproximarem da meta de dois graus.
O protocolo de Paris será legalmente vinculante?
Esse pode
ser um dos pontos mais complicados da cúpula de Paris. A União Europeia aposta
em um protocolo com seções vinculantes. Por exemplo, que sejam assim os
compromissos de redução de emissões que cada país apresentou voluntariamente.
No entanto, a administração de Barack Obama pode
enfrentar problemas, como aconteceu com Kyoto, para fazer o Congresso e o
Senado ratificarem um protocolo legalmente vinculante. A União Europeia já desistiu
que sejam incluídas sanções, porque considera que isso pode dissuadir alguns
países a assinarem o acordo.
O que é a adaptação?
Além da
mitigação, a cúpula também discutirá políticas de adaptação, ou seja, medidas
para que os países mais vulneráveis se preparem para a mudança climática. Para
isso, está prevista a criação do chamado Fundo Verde para o Clima, que a partir
de 2020 contará com 100 bilhões de dólares anuais. Quem deve fornecer o
dinheiro? Essa pode ser outra das dificuldades em Paris. Em teoria, apenas os
países considerados desenvolvidos. Mas potências como a China ficariam fora
dessa categoria.
Haverá acordo?
É
complicado aventurar-se nessa resposta. Em 2009, com a Cúpula de Copenhague,
expectativas parecidas com as de Paris foram levantadas e o resultado foi um
fracasso. Desta vez, além de os sinais da mudança climática terem se acentuado,
parece haver uma implicação maior das principais potências, do G20 em geral, e
da China, EUA e Alemanha em particular. Os líderes desses três países colocaram
a mudança climática na sua agenda durante o último ano.
E se não houver acordo?
Se não
houver, ou se o acordo for pouco ambicioso, não significa que a luta contra a
mudança climática terá terminado. Muitos dos compromissos voluntários de
redução de emissões já estão contemplados na legislação nacional de cada país.
Seria o caso, por exemplo, da União Europeia, que se fixou metas concretas para
2030, independente da cúpula. Se não houver acordo, talvez o pior prejuízo seja
para a ONU e para a ideia de que um problema global, como a mudança climática,
pode ter uma resposta também global.